
EXCELÊNCIA CONSIGO MESMA
“A renovação da mente traz a convicção de que somos amados por Deus o que gera condições para a excelência na relação do homem consigo mesmo”.
A excelência no relacionamento com Deus é a base para a vida plena. Porém, é comum encontrarmos pessoas que já receberam Jesus como Salvador, mas apresentam muita dificuldade na relação consigo mesmas. Por outro lado, às vezes, encontramos quem não teve experiência de conversão e apresenta uma relação mais leve consigo mesmo. Por que isso ocorre? Até que ponto e quanto o Senhor interfere na estrutura da nossa personalidade? Qual o caminho para a boa relação do homem com ele mesmo?
Ao resumir os 10 mandamentos, Jesus ordenou: “Ame o Senhor, seu Deus (...) e ame o seu próximo como a si mesmo” (Mc 12.31) e revela um ensino precioso: o amor a Deus está acima de tudo. E a medida de amor que cada um atribui a si mesmo deve ser a mesma a ser liberada para o próximo. A compreensão dessa revelação é imprescindível para que se obtenha a plenitude nos relacionamentos. Na busca da excelência na relação consigo mesmo, três requisitos são importantes:
1 – Conhecer as necessidades básicas do ser humano
Ao nos criar, Deus nos dotou de uma estrutura que requer cuidados. Nascemos com necessidades básicas que precisam ser supridas: alimentação, vestimenta, higiene, afeto, amor, paz. Se deixarmos um bebê sozinho, em pouquíssimo tempo ele morrerá. Isso porque não nascemos para estarmos sós. Nossa estrutura requer a presença do outro. E, pelo fato de termos nossas necessidades básicas atendidas desde a mais tenra infância, aprendemos, desde pequenos, que sempre devemos ter alguém para nos ajudar, nos orientar. Por outro lado, a ausência desses cuidados deixam marcas que carregamos, muitas vezes, pela vida inteira.
Aqueles que durante a infância, receberam cuidados e orientações adequadas e tiveram suas necessidades básicas supridas, com certeza, lidam melhor consigo mesmos e resolvem com mais facilidade seus conflitos. E isso ocorre porque a personalidade é um conjunto de características que adquirimos; é a soma da carga genética com as impressões que acumulamos ao longo dos anos. Uma junção do gene com o meio; e esse meio tem grande relevância para a formação integral do ser humano.
Outra questão importante é que Deus nos deu uma natureza triúna “A Palavra de Deus ... penetra até o ponto de dividir alma e espírito” (Hb. 4.12). “Palavras agradáveis são ... doces para a alma e medicina para o corpo” (Pv. 16.24). Temos, portanto, corpo, alma e espírito – e os três precisam receber cuidados adequados a fim de cumprirmos o propósito da nossa existência.
2 – Autoconhecimento
Qual a imagem que você tem de si mesmo? Quem é você? Para estarmos bem e mantermos um relacionamento saudável conosco mesmos, é fundamental saber quem somos. Por isso, quero desafiá-lo, amado leitor, a responder a pergunta: Quem eu sou? Faça uma lista das suas características positivas e das que precisam ser melhoradas. Se tiver dificuldade, peça a seus amigos para lhe ajudarem.
Em Mateus 16.14-17, Jesus fez algo semelhante; reuniu seus discípulos e pediu-lhes um feedback a seu respeito. Acredito que seu foco, considerando sua afirmativa:– “Antes de Abraão nascer, eu sou!“(Jo 8.58) – não era saber o que diziam dele, mas a revelação de quem Ele é. Isso fica mais evidente ainda quando Ele confirma a declaração de Pedro (“Tu és o Cristo o Filho do Deus vivo!”). Assim, o Salvador publica, com convicção, sua identidade: Cristo, o de Filho de Deus.
A identidade diz o que somos e está intimamente relacionada com os sentimentos da nossa existência. O que nos foi transmitido quando crianças, os conceitos internalizados por meio de atitudes, palavras, gestos ou até mesmo um olhar a nós dirigido contribuíram para formar o que somos. Todavia, aprendemos a viver sobre o reflexo do outro, e é exatamente isso que precisa ser mudado. Contudo, o ponto de partida para a mudança é não focar no que as pessoas pensam a nosso respeito e sim, no que de fato, somos.
Brennan Manning, em seu livro Falsos, metidos e impostores: Aonde foi parar seu verdadeiro eu? afirma: “É exatamente no seu eu, comum como ele é, que Deus deseja operar milagres incomuns”. Quando descobrimos de fato quem somos e entendemos que aquilo que foi formado em nós não é totalmente bom, é preciso mudança, a fim de compreendermos qual o propósito de Deus para nossa vida.
3 – Reconstrução da identidade
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1. 27), mas por causa da queda, herdamos a natureza adâmica. Sendo assim, tanto as pessoas que tiveram uma formação correta, cercadas de cuidados e atenção, como aquelas que sofreram maus tratos ou desatenção, precisam reconstruir sua identidade, a fim de adquirir e refletir a imagem e semelhança de Deus. Esse processo é indispensável na busca de excelência na relação consigo mesmo. Para tal, é necessário que ocorra:
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O encontro com Deus
O encontro com Deus traz uma perspectiva nova acerca de quem éramos e quem somos; e revela nossa condição de filhos. “Contudo, aos que o receberam, aos que creram no se nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural…, mas nasceram de Deus” (Jo 1.12 e 13).
Quando Pedro recebe a revelação de quem é Jesus (Mt 16. 17), automaticamente o Filho de Deus revela a verdadeira identidade de Pedro e o propósito de sua existência (Mt 16.18). Essa experiência lhe proporciona uma mudança radical e revela o importante papel que assumiria na história da Igreja. E o mesmo acontece conosco: ao recebermos a presença do Espírito Santo em nossa vida pelo novo nascimento, a imagem de Deus é reconstruída em nós e recebemos a nova identidade: filhos de Aba. Uma nova história é iniciada, e ainda que, para nós, essa história não esteja acabada, sentimo-nos seguros, em quaisquer circunstâncias, confiantes no Paizinho que, por amor, traçou o caminho que devemos trilhar. Porque, em Deus, o quadro da nossa história está pronto, completo, acabado (Salmo 139).
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A transformação da mente
A reconstrução da identidade perpassa, também, pela transformação da mente. “... Mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rm 12.2) A mente precisa ser restaurada, reestruturada – e o que muda a mente é o que se inculca nela. Portanto, se queremos a mente de Cristo, devemos meditar na Palavra de Deus e refletir em seus ensinos. Aprendemos que muito do que somos deve-se a conceitos, crenças e valores que internalizamos. Mas muitas palavras que disseram sobre nós e muitos conceitos que absorvemos são falsos. “Porque, como imagina sua alma, assim ela é” (Pv. 23. 7). Logo, a impressão que você tem de si mesmo é o que você é. Todavia o Espírito Santo, por meio da Palavra, pode mudar os valores e crenças enganosas que acumulamos a nosso respeito. Só a Bíblia tem a verdade sobre nós “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor ...” (Jr 29.11). A renovação da mente traz a convicção de que somos amados por Deus; e o sentir-se amado pelo Senhor gera condições para a excelência na relação do homem consigo mesmo.
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A cura das feridas emocionais
As feridas emocionais interferem na autoimagem e, muitas vezes, impedem a assimilação dos conceitos da Palavra de Deus. Por mais que falem que somos importantes, ou que somos filhos de Deus, não conseguimos nos sentir assim. Quando isso ocorre, é sinal de que há coisas que precisam ser tratadas.
No evangelho de João, capítulo 4, encontramos a narrativa do encontro da mulher samaritana com Jesus. Ele sabia tudo sobre aquela mulher: sua reputação e seu pecado mas, ainda assim, olhou-a com amor, e pacientemente tratou sua alma marcando sua vida com perdão. A mulher, por sua vez, abriu sua alma para ser tratada e permitiu que Jesus fosse se aprofundando na sua história de vida. Na experiência com o Filho de Deus, ela reconheceu seu pecado, declarou suas necessidades e recebeu a água da vida. Saciada, imediatamente, deixou seu cântaro – o instrumento que tinha para matar sua sede – e assumiu uma nova identidade, anunciando Jesus, o motivo da sua libertação.
“Deixar o cântaro” pode significar não ter que voltar à vida de antes, não mais carregar o que prende, escraviza e impede de seguir adiante a fim de assumir o papel na história que o Senhor escreveu. A excelência na relação consigo mesmo implica em novo aprendizado: deixar as coisas que para trás ficam, usufruir da graça e do Deus gracioso, assumir 100% a identidade de filho e declarar: “Pela graça de Deus eu sou o que sou”.
Referências:
Bíblia Sagrada. Nova versão internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2003;
Manning, Brenan. Falsos metidos e impostores: Aonde foi para meu verdadeiro eu? (São Paulo: Mundo Cristão, 2008);
Moreira, Ana Lúcia Rocha. Manual do Curso Básico de facilitadores, conselheiros e terapeutas cristãos. Vl. III p. 64. João Pessoa: Innprel, 2001
Abilene da Paz Barros Silva é Pastora da Igreja Congregacional Sião – São Luís – MA, graduada em Teologia e Pedagogia, e pós-graduada em Psicopedagogia e Psicanálise. É coordenadora nacional da Rede Tirzah Brasil. Contato: , www.tirzahbrasil.com.br, fone: (98)981184526